sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Prolongamento das minhas primaveras


Auto Retrato Cheio de Lua


Anda boba, anda estrada, anda nua
Com os olhos desleixados da manhã
Muda de silêncios e chuva
Maria-sem-vergonha
Mas pode chamar de Beijo.

Veste acasos, reverbera
Com um equivoco nos lábios
Passos fatigados e vagabundos
Flor pelo avesso, eclipse do verbo ir
Bordar no verso forro, conjugar no vento.

Luar na jarra da avó, erva daninha
Nasce sem plantar
Salpica desencontro
Tem gosto de ausência
Tece um canto surdo, grita com deus.

Prefere os trovadores
A lira sem lei, ressacas oceânicas
E bêbados de botequim
Fala um idioma úmido e sonolento
Mas garante que não é embriaguez.

Pede cais, pede poente, pede orvalho
Pede alma, pede alma, não tem calma
Pede nós
Mas ora afrouxa
Ora estreita, ai de mim!

Modos mudos e indóceis
Furta cor do arco que se esquece no céu
Para colorir a própria íris
Arde em risos e afrescos
Gozo multicor.

Indaga, cheia de si
Banhada de prata
Grávida de firmamento
- Quem não música?
Quem não insensatez?

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