segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Estilhaços de amores submersos

“A vida humana – na verdade, toda a vida – é poesia. Nós a vivemos inconscientemente, dia a dia, fragmento a fragmento, mas, na sua totalidade inviolável, ela nos vive”. Lou Salomé



"Permaneço no escuro como um cego
Porque meus olhos não te encontram mais
A faina turva dos dias para mim
não é mais que uma cortina que te dissimula.
Olho-a, esperando que se erga
esta cortina atrás da qual há minha vida
a substância e a própria lei da minha vida
e, apesar disso, minha morte.
Tu me abraçavas, não por desrazão
mas como a mão do oleiro contra o barro
A mão que tem poder de criação.
Ela sonhava de algum modo modelar –
depois se cansou,
se afrouxou
deixou-me cair e me quebrei.
Eras para mim a mais maternal das mulheres,
eras um amigo como são os homens,
eras, a te olhar, mulher realmente, mas também, muitas vezes, criança.
Eras o que conheci de mais terno
e mais duro com que tenho lutado.
Eras a altura que me abençoou –
te fizeste abismo e naufraguei."
(Resposta de Rilke à correspondência da amiga e amante Lou Salomé, onde a poetisa russa se posiciona a respeito do casamento recém celebrado.)

PS. E sobre os rastros da obra inconclusa, sobrevoa a pergunta que atravessa eternidades sem descansar o cajado: Por que não Chico e Marieta?  por que não Romeu e Julieta? Por que não Catavento e Girassol?

Nenhum comentário:

Postar um comentário